Resenha do livro Os 13 Porquês – Jay Asher

O primeiro ponto que preciso contar sobre o mercado brasileiro é que aqui temos várias capas para o mesmo livro; várias edições com o mesmo conteúdo, mas com capas diferentes (parecendo mais um teste de qual capa vende mais). Não vamos negar. Julgamos o livro pela capa, sim. E as editoras se aproveitam disso. Embora nesse caso os norte americanos também tenham trocado de capa por conta da série da Netflix.

os 13 porquês
Primeira capa

Pelo pouco que acompanhei desse livro, esta foi a primeira capa aqui no Brasil, ao meu ver a mais bonita e, sem dúvida a mais famosa. Toda via a Netflix lançou um seriado baseado no livro então mudaram a capa para associar ao seriado. Lançaram então a capa abaixo:

os treze porquês
Segunda capa
Gostaria de enfatizar: prefiro mil vezes a primeira capa. Tanto porque é esteticamente mais bonita e não vincula uma imagem pre-definida dos personagens, quanto porque os elementos da primeira capa têm vinculo total com a história. Mas as editoras querem mais é vender.Deixa estar!
Ainda tem a versão americana, antes da série, que não é tão bonita e não remete tanto à história quanto a primeira versão brasileira (que orgulho da nossa criatividade!), mas que desperta muito a curiosidade.
capa americana 13 Reasons Why
Primeira capa americana
Sim. Eu li o e-book, antes que venham me perguntar.
Vamos ao que interessa. A história.
Não vou mentir, como uma história feita para adolescentes, me surpreendeu bastante. Em um primeiro momento li o livro apenas para praticar inglês. Pelo fato de o livro ter sido feito para adolescentes, geralmente, tem uma história e linguagem mais simples. A linguagem realmente é simples, mas não a história. Primeiro porque aborta assuntos muito delicados (para você que leu e só capturou o suicídio como tema, recomendo ler mais algumas vezes). Não, ele definitivamente não fala apenas de suicídio. O livro deixa muita coisa aberta à interpretação, tantas que podem mudar totalmente a sua percepção do livro.
Por exemplo: trabalho em uma empresa de tecnologia e nesse meio é comum, hoje em dia, termos o que eu chamo de “pseudo nerds” que são pessoas que acham bom ser nerd (mesmo que não falem isso abertamente) a ponto de revestir de todo o esteriótipo do nerd como comprar objetos de decoração de jogos antigos como Mario Bros e deixa á vista, usar óculos grandes, ETC. Depois eu explico isso melhor, mas no final da história os “pseudo nerds” confundiram o esteriótipo do nerd com o do intelectual e agora vivem como o que eu chamo de “pseudo inte-nerds” que nada mais são do que pessoas que se vestem como nerds, mas não pensam como nerds, falam como intelectuais e vivem para cima e para baixo com livros que aparentam intelectualidade em baixo dos braços, mas não pensam como intelectuais. Contei tudo isso para dizer que uma dessas pessoas me falou sobre o livro Os 13 Porquês ha um tempo atrás, livro o qual esta pessoa carregou para cima e para baixo durante uma semana e se gabava todo dia de ler o livro muito rápido. Enfim, segundo o resumo dessa pessoa o livro tratava de como as crianças podem ser ruins e de como cada vez mais o “booling” vem piorando. E foi seguindo essa visão limitada da história que eu decidir pegar esse livro para treinar inglês, teoricamente seria mais fácil.

Nem de crianças o livro fala, e sim de pre adolescestes. E quem já passou por essa fase saber que são coisas bem diferentes. 😉


Minha visão

E foi por isso que a história me surpreendeu tanto. Ao meu ver o livro não fala apenas do “booling” e do suicídio (que já seriam temas complexos a serem tratados com seriedade por um autor que pretendesse tal coisa), mas fala também, ao meu ver, de como as vezes interpretamos as coisas erradamente, de como quando estamos dentro da situação não enxergamos o quanto a vida é tão mais importante; para mim fala de que quando estamos cegos pela dor não enxergamos a melhor saída (muitas vezes nem enxergamos UMA saída). Fala de como as vezes o que é tão claro para nós é tão obscuro para quem não sabe todo o contexto do que passamos e do sentimos. Se você se colocar no lugar de cada personagem (não apenas nas personagens narradoras) e se você for sincero com você mesmo muitas vezes você se verá como um possível responsável pela dor e pela morte dessa personagem, outras vezes se achará tão superior (quanto um dos personagens narradores) que condenará os outros e não enxergará sua culpa até que ela esteja bem na sua cara.

É muito mais um livro sobre empatia do que sobre suicídio.

É por isso que sua história não é tão simples, existe muita coisa a ser interpretada. A sua visão provavelmente não será a mesma que a minha. É por isso que o livro é difícil até mesmo para adultos, quebrando o meu preconceito de que era mais um livro “teen” como tantos outros que os EUA produz.

Mas infelizmente a maioria dos adolescentes, talvez por falta de bagagem, não entenderam assim. Levaram apenas como um livro sobre suicídio e dor. Tanto foi que aqui em Pernambuco aumentou significativamente os casos de tentativas de suicídios por adolescentes ao mesmo tempo que aumentou a quantidade de pessoas pegas em flagrante “jogando o jogo” Baleia Azul. Esse é um dado muito triste por dois lados, tanto o lado que a maioria dos leitores não entenderam a complexidade e a beleza da história e mais triste ainda pelo lado de que esse “jogo” maldito ganhou mais espaço na nossa terra abençoada por Deus. Pelo menos a mídia local, pelo sucesso do livro, estava atenta ao suicídio de adolescentes e as tentativas foram fortemente cobertas pela mídia o que com certeza ajudou muitos a encontrarem a ajuda da família que tanto precisam.

Gente eu poderia ficar horas falando de como os nossos adolescentes precisam de ajuda, mas quero ouvir vocês sobre isso. Quero apenas alertar que este NÃO É UM LIVRO PARA QUEM ESTÁ SE SENTINDO TRISTE OU COISA PIOR. Cuidado para quem você indica este livro, pois como a maioria das pessoas não leem as entrelinhas do livro elas, e como quem está em um estado constante de tristeza tema tendencia natural de ter pena de si mesmo, podem interpretar esse livro como o gatilho que ela precisa para começar a pensar em suicídio.

Por essas razões eu não recomendo este livro para os pré adolescentes, fase em que estamos com os passando por problemas físicos e psicológicos. De fato eu recomendo apenas para pessoas com um background cultural satisfatório, pessoas que consigam interpretar um texto. Infelizmente essa não é a realidade da maioria de nossos adolescentes em uma sociedade que exige cada vez mais clareza no texto justamente para evitar “erros de interpretação” e de pessoas analfabetas funcionais.

Mas voltando à história o primeiro fato que me surpreendeu é que temos dois narradores, um principal e um secundário que intercalam-se. Achei a forma que o autor achou de separar essas narrativas muito boa. Embora no começo seja difícil se acostumar, pelo menos na minha edição de e-book, quando você pega o ritmo seu cérebro se acostuma com a mudança de perspectiva e a leitura flui. Esse com certeza é o ponto principal do livro, na minha opinião.

E você, qual  foi o ponto principal do livro na sua opinião? E qual foi sua interpretação sobre o livro? Qual o motivo do sucesso desse livro na sua opinião?

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